
O Solar dos Tainheiros
Construído entre 1901 e 1904, e tombado pelo Iphan em 1981, o Solar Amado Bahia - sobrenome do pecuarista que o construiu -, é sem dúvida a mais importante edificação civil da Ribeira. E se situa justamente no Porto dos Tainheiros, um dos lugares mais icônicos do bairro.
Não foi por acaso que sua construção durou tanto tempo: as varandas que circundam os dois pavimentos, assim como a portentosa escada lateral, foram trazidas da Inglaterra; pisos vieram da Espanha e outros países da Europa; móveis, espelhos e vidros fizeram uma longa viagem de navio desde a França; e mão-de-obra especializada veio da Espanha, para o assentamento das pequenas pastilhas que formam belos mosaicos nos pisos das varandas.
Em Os Filhos do Vento, a família “Almeida Britto” ganhou este nome para manter as iniciais dos sobrenomes dos verdadeiros donos. E o solar é o principal locus da trama. Nos seus muitos cômodos, a ação - totalmente ficcional, sempre é bom lembrar -, se desenvolve em meio a descobertas e revelações, traições, pactos, alegria, mistério, amor e sexo, como não podia deixar de acontecer em um romance.
Para melhor fluidez da narrativa, o autor se permitiu a “licença poética” de criar banheiros, lavabos e cozinha completa em uma casa que não dispunha de nenhum desses equipamentos nos seus dois pavimentos, mais o sótão. Um só que fosse: urinóis e bacias de esmalte faziam parte do mobiliário interno da casa, e banheiros somente existiam em uma edícula, nos fundos do terreno.
No último capítulo do livro, e em nome do processo de tombamento (real) do imóvel, os banheiros foram “demolidos”, e a cozinha voltou à sua configuração original, do início do Século XX.
Porque ficção é assim: ora é verdade, ora também é verdade, porque quando ela se materializa na mente do leitor, se transmuta em pedra e cal, cimento e aço. E os personagens ganham corpo, alma, voz, vida.
Indelevelmente.
Fotos do Solar
Conheça a casa da Família Almeida Britto, no livro









