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A RIBEIRA, COMO ELA É

      Gilberto Gil falou dela em Domingo no Parque; Moraes Moreira, em Assim pintou Moçambique; Jauperi em Ribeira, totalmente dedicada a ela; e Armandinho, Dodô e Osmar, filhos da Cidade Baixa, eletrizavam acordes que ecoavam no Porto dos Tainheiros, não muito longe de sua casa.

       Predominantemente plana, ponta da Península de Itapagipe, a Ribeira seguiu o roteiro da ocupação urbana dos lugares praieiros: de armações de pesca a vila de pescadores, evoluindo para lugar de veraneio, terminando como um bairro de classe média baixa, cercado de água por (quase) todos os lados.

       De diferente, os estaleiros navais que nasceram nas suas imediações, e que deram nome a um lugar no fundo da enseada; as canoas, antes a vela e a remos, depois com motores, finalmente substituídas por lanchas mais seguras, que fazem a ligação marítima entre ela própria e Plataforma; as poluentes indústrias que funcionavam no seu entorno, hoje totalmente desativadas - para o bem do ar, do mar, da terra e do povo da península; e as regatas na raia dos Tainheiros, formando até hoje atletas de corpos e mentes sãos.

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       Seus filhos reconhecidamente são boêmios atléticos, trabalhadores folgazões, filósofos por natureza, honestos por princípio, bon vivants por escolha, o resto que se dane. Tudo assim, conflitantemente junto e misturado, que nem um coquetel de pinga, mel, gelo e frutas da época, brindemos!

        Para os itapagipanos, sua Côte D’Azur, não-rica, populosa e autossuficiente; para os soteropolitanos da Cidade Alta e seus bairros nobres, um lugar ao qual só se referem com um “Lá” antes, tipo “Lááá na Ribeira”. É assim quase um predecessor do “Lá ele” que sai da boca de qualquer baiano, quando lhe fazem perguntas de duplo sentido.

         Por falar em sentido, talvez seja esse o motivo de a Ribeira parecer um lugar tão longe: por ser uma ponta, um fim-de-linha, você vai e volta praticamente pelas mesmas ruas, só invertendo o... sentido. Vai ver que é isso.

        E a vida por lá corre bem devagar entre a preamar e a baixa-mar, entre o nascer do Sol nos Tainheiros e o pôr-do-sol na Avenida Beira-Mar, nos seus bares e restaurantes com suas moquecas e frutos do mar, e tudo termina e começa em mar, na Ribeira não podia ser diferente: o mar a conforma, a define e a delimita, ao mesmo tempo que lhe abre portas para o sem limite que é o próprio mar - por definição.

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      E aí eu parafraseio Ary Barroso, que nunca veio à Bahia (e muitíssimo menos à Ribeira), para entoar: Ô | Ribeira, Ai, Ai,| Ribeira que não me sai do pensamento |Ai, Ai....

     Alberto Saraiva    

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Os Filhos do Vento

livro.osfilhosdovento@gmail.com

fotos: Natália Matos

fotos do interior do Solar: Marcos Guimarães

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